sábado, 18 de outubro de 2008

Nojo


Sento-me a escrever estas linhas e não posso deixar de sentir nojo. Uma repulsa visceral que me percorre o corpo e aflora na minha mente imagens desconexas e desconcertantes.

O motivo por detrás deste estado é simples: conheci pela primeira vez alguém que não acredita que o Holocausto aconteceu.

Foi para mim um dos maiores choques intelectuais que alguma vez tive. A argumentação deturpada que me apresentou, a afirmação dogmática e peremptória, uma certeza consolidada naquela mente, que nenhuma visita a Dachau ou Auschwitz poderão alguma vez mudar.

Para mim não era novidade que há muita gente por aí que defende que 6 milhões de judeus, ciganos, deficientes mentais e homossexuais nunca foram executados nos campos de concentração, a começar pelo Presidente do Irão. Mas outra coisa é o próximo, o conhecido, o colega de trabalho, isso sim é a materialização do choque, e o fundo de todo o meu recente desconcerto.

Não vos vou expor os argumentos (muitos) e as teorias que o individuo me apresentou durante as três longas horas que conversámos. Suspeitava das ideias dele, mas arrastado por uma curiosidade mórbida, fui escutando a sua verborreia ideológica e anti-semítica. Queria perceber o que poderia estar por detrás de tais ideias, vindas de alguem com educação universitária (o que me leva a concordar que o canudo já não é sinónimo de nada). Errei. Não aprendi nada de novo.

Terminei a telefonar ao Mega pouco depois de nos despedirmos, pelas sete da manhã, e, como quem vê pela primeira vez ao vivo num Zoo um animal de uma revista da National Geographic, exclamei: “Sabes, acabei de conhecer um daqueles gajos que não acredita no Holocausto!”.